2011/05/23

não fujas antes de ver isto

E se nos acusassem de nos escondermos do mundo? Se nos acusassem, do que sabemos ser verdade, de fugirmos constantemente a cada melhoria no estatuto social, de fugirmos de um aumento no salário, de fugirmos de uma vida menos triste, de fugirmos dos nossos sonhos, de fugirmos dos nossos talentos, de fugirmos de nós mesmos?

E? Nada. O que se pode fazer? O que se pode sentir? O que se pode? O que nos limita somos nós, é a nossa visão. Se nos sabemos fugir, então fugiríamos da acusação também. Fugiríamos porque nos vemos como presas de nós mesmos, rejeitamos objectivos maiores porque o que somos ultrapassou o nosso objectivo. Este é o problema, nalgum momento, antes de começarmos a fuga, vimo-nos como objectivo. Mas crescemos, o objectivo de viver o presente não pode ser visto mas nós vimo-lo e soubemos que era o nosso objectivo. Mas, com o tempo, damos pelas mudanças em nós mesmos, sabemos então que o velho propósito foi ultrapassado. Daí em diante, tudo é a mais, tudo é de mais e por demais diferente da nossa visão da realidade. Tudo muda, dizem, mas as convicções ficam e ficam e ficam – “por isso fugimos”, dizemos fugindo da acusação…

Mas o acusado defende-se apenas, procura não o problema mas a causa da situação. O problema não é questão, está ali. Mas aquele valor, ser EU e não a maralha, ser diferente e não vulgar, é cedo que aprendemos a fugir de nós mesmos. Mais um piercing, uma tatuagem, uma promessa de eterno cuidado… Nada. Vende-te à maralha, esconde-te como louco dentro de ti, para que todos te vejam! Mas nada é solução. Não existe problema nenhum aqui para haver uma resposta. É só uma acusação vazia, não é uma acusação na verdade, não é nada, sempre fugimos. Mas agora, todos nos vêm, somos vulgares, o piercing infeccionou, a tatuagem desbotou e a promessa… bem, e a promessa! Tudo o que nos diferenciou foi a tentativa mais perversa de ser intensamente igual a tudo o resto e à acusação. Nada. Nada causa isto, senão nós mesmos. Não definas, não penses a tua visão, limita-te aí e vê simplesmente. Não “simplesmente” como quem quer ser visto “pelo que é” mas apenas, “vê”. “Simplesmente nós”, somos complexos demais, mas não deixamos de ser iguais a todos os outros, nesse aspecto. Somos todos iguais, todos fugimos.

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